Manifesto
🇵🇹 Português [English version bellow]
🎄🔥 Mini-manifesto natalício cuir e descolonial
Não celebramos o Natal. Atravessamo-lo.
Recusamos este ritual anual de normalização afetiva, esta coreografia obrigatória da família nuclear, este calendário colonial que insiste em dizer-nos quando amar, quando perdoar, quando sentar, e sobretudo quem conta como família.
O chamado Natal não é inocente. É uma tecnologia temporal. Uma pedagogia moral. Um dispositivo que disfarça conflito estrutural com luzes, peru e a promessa vazia de harmonia.
Reivindicamos o solstício — apagado, apropriado, rebatizado — como tempo de fratura, não de consenso; de sobrevivência, não de reconciliação forçada; de dissidência, não de maturação normativa.
Não queremos afetos herdáveis, nem mesas genealógicas, nem corpos úteis à reprodução do mundo tal como ele está. Queremos parentescos escolhidos, linhagens interrompidas, e vidas que não pedem desculpa por existir fora do guião.
A dissidência não é uma fase. Não amadurece. Não se resolve. Não espera janeiro para ser legítima.
Este não é um apelo à tolerância. É uma recusa da norma. Uma descolonização do tempo. Uma cuirização do inverno. Uma insistência em existir quando tudo conspira para nos domesticar.
Boas Festas de Inverno. Que sobrevivam ao Natal enquanto dispositivo colonial, familiar e afetivo — e que o próximo ano comece antes que o calendário autorize.
🇬🇧 English
🎄🔥 Queer & Decolonial Winter Manifesto
We do not celebrate Christmas. We endure it. We pass through it.
We refuse this annual ritual of affective normalization, this compulsory choreography of the nuclear family, this colonial calendar that insists on telling us when to love, when to forgive, when to gather, and above all who counts as family.
So-called Christmas is not innocent. It is a temporal technology. A moral pedagogy. A device that masks structural conflict with lights, turkey, and the empty promise of harmony.
We reclaim the solstice — erased, appropriated, renamed — as a time of rupture rather than consensus; of survival rather than forced reconciliation; of dissidence rather than normative maturation.
We do not want inheritable affections, genealogical tables, or bodies made useful for reproducing the world as it is. We want chosen kinships, interrupted lineages, and lives that do not apologize for existing off-script.
Dissidence is not a phase. It does not mature. It does not resolve itself. It does not wait for January to become legitimate.
This is not a call for tolerance. It is a refusal of the norm. A decolonization of time. A queering of winter. An insistence on existing when everything conspires to domesticate us.
Happy Winter Holidays. May you survive Christmas as a colonial, familial, and affective device — and may the new year begin before the calendar grants permission.
Por Orlando Figueiredo, desde as margens.
---
Queres receber as próximas palavras nas margens da tua caixa de entrada? Subscreve o blogue!